Pesquisa realizada no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostra que a técnica de Emissão de Fóton Único de Tomografia Computadorizada (SPECT) pode complementar o exame padrão Videoeletroencefalografia (VEEG) na distinção de crises epilépticas e crises não epiléticas-psicogênicas (CNEP).
O psiquiatra José Gallucci Neto explica que “um exame clínico rápido não consegue diferenciá-las porque apresentam sintomas similares como convulsões, perda de consciência e movimentos involuntários despropositados.”
A VEEG é um exame que, por meio de um vídeo, analisa as atividades cerebrais do paciente durante a crise.
No entanto, apesar de ser o melhor exame para distingui-las, é caro e restrito a alguns centros terciários de saúde”.
Menos custoso e de rápida realização, o SPECT envolve dois tipos de análises: a visual e a estatística.
Duas das maiores necessidades de se obter um diagnóstico correto e se entender melhor principalmente a CNEP são as altas taxas de melhora e de cura quando há o tratamento correto e tentar demonstrar a pessoas mais íntimas ao paciente que as crises são reais e não fingimento do doente.
Os estudos duraram aproximadamente cinco anos. O trabalho foi escolhido como o melhor entre os apresentados no Sétimo Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções (CBCCE), realizado em 2011, em Gramado, Rio Grande do Sul.
A intenção dos pesquisadores ao estudar a possibilidade do uso da SPECT foi verificar se havia ou não o funcionamento de áreas cerebrais distintas em cada um de dois grupos de pacientes: 22 com epilepsia e 30, com crises psicogênicas.
Para isto, os pacientes com crises não epilépticas (já diagnosticados pelo VEEG) ficavam internados em média entre 10 e 30 dias no Instituto de Psiquiatria.
Durante as crises era injetado no doente um radiotraçador, substância que emite radiação e, por isso, pode ter sua localização determinada e registrada durante a monitorização por VEEG.
Análises Visual e Estatística
O psiquiatra relata que “ por meio das imagens captadas, o radiologista pode visualizar as áreas em atividade no cérebro. Regiões que ficam iluminadas devido à ligação do radiotraçador”.
Entretanto, esta análise visual do exame se mostrou pouco eficaz quanto à sensibilidade e ótima para especifidade.
Pois, embora a visualização das regiões iluminadas tenha permitido que o profissional diagnosticasse corretamente apenas 50% dos pacientes com CNEP, dentre os casos corretamente diagnosticados como crises epilépticas, 91% estavam certos.
Já, na análise estatística com o uso do computador houve o mapeamento e a comparação de dados das atividades cerebrais dos pacientes por meio do Statiscal Parametral Mapping (SPM).
O uso deste método permite que áreas minúsculas de cada região do cérebro sejam sobrepostas no programa para a identificação de semelhanças e diferenças.
O resultado foi a constatação de que no grupo de pacientes com CNEP ocorre a ativação da região cerebral temporo-parietal direita. Tal área é responsável, entre outras funções, pela consciência do ato intencional (ou seja, a pessoa se move porque quer fazê-lo).
Preconceito
As causa de origem das doenças não é a mesma. Enquanto crises epiléticas ocorrem pela existência de descargas elétricas anormais no cérebro ou de uma lesão cerebral,”as crises psicogênicas são muitas vezes consideradas apenas como manha em crianças ou fingimento em adultos porque, aparentemente, não apresentam alteração temporária e reversível da atividade elétrica cerebral”, explica Gallucci.
Por isso, os autores da pesquisa sugerem que a atividade cerebral descoberta na análise estatística durante as crises de pacientes psicogênicos pode demonstrar que não há fingimento ou intencionalidade do paciente. Mas, perda da consciência do ato intencional.
O diagnóstico mais preciso dá ao médico condições de optar pelo tratamento mais adequado.
Para a epilepsia, há a necessidade de administração de remédios. Pacientes com CNEP, no entanto, precisam de seguimento psiquiátrico e psicoterapia específica para o problema.
O tratamento adequado pode levar à cura em 19% a 52% dos casos ou melhora do quadro em 75% a 95% dos pacientes.(Agência USP de Notícias)
Fonte: Dourados Agora